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Retornamos à Mata da Baleia. Hoje nosso grupo estava maior, e adentramos mais na mata. Em conversa com Makota Cássia Kidoialê do Kilombo Manzo Ngunzo Kaiango, para quem a mata da Baleia é parte da vida do Kilombo, ela nos conta que agosto é o mês do carrapato. "Uma coisa incrível! É sentar na mata e pegar carrapato. Isso já é a mata dizendo: 'Olha o mês de agosto, não é para você vir aqui!' Porque para nós é um processo de recolhimento, de isolamento, de reza. É no mês de agosto que a gente tem o ritual de agradecer à terra. A gente reserva pra terra descansar, pra mata descansar para depois, em setembro, tudo florir e a gente poder fazer a colheita. Então tem todo um sentido o carrapato na mata. Eles estão ali fazendo a proteção dessa floresta que vai cuidar da gente todo o ano. Eu não entro na Mata da Baleia em agosto. Os mais novos não conhecem a Mata da Baleia."

 

A Mata da Baleia, como é conhecido popularmente o Parque da Baleia, localizado na regional centro-sul, é um lugar que figura nas narrativas de várias pessoas do quilombo. Hoje, o Parque constitui Área de Preservação Ambiental, a APA-Sul, criada em 1994. Lugar frequentado, seja para extração de lenha e de madeira para a construção de casas, seja para recolha de águas (quando ainda não estavam poluídas) para uso em rituais da Umbanda e do Candomblé, para coleta de folhas ou para a execução de rituais sagrados como a Macaia (uma gira da linha da Umbanda), nos dias atuais, sua entrada está interditada. Tendo em vista que o Candomblé é uma religião que está intrinsecamente relacionada à natureza (às águas, às plantas, às pedras), a interdição à Mata da Baleia, significa perdas importantes para a comunidade. (Dossiê de registro da Comunidade Quilombola Manzo Ngunzo Kaiango, IEPHA/MG, p.178)

16/09/2022

© Procedimentos técnico-poéticos na pintura ao ar livre

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