O terreno, no bairro Buritis, onde fomos é cercado por edifícios sobre palafitas de concreto, prédios abandonados antes da finalização da obra, e também por prédios habitados. Os moradores do entorno cuidam e usam o terreno para jogar vôlei, fazer reuniões etc. O grupo de pintura vai para esse lugar experimentar materialidades pictóricas, algumas com tintas à óleo sobre tela, outras coletando materiais no local e modificando-os, ou buscando produzir suas matérias com a terra local.
Estamos na Bacia do Córrego Cercadinho, composta pelos córregos Cercadinho e Ponte Queimada, e dezenas de nascentes, pertencente ao complexo da Serra do Curral. De acordo com mapeamento geológico feito pela UFMG em 1995 esta é uma área delicada, com solo de filitos. Considerando essa geologia e hidrologia, como ocorreu a urbanização dessa área?
Em 1979 questões ambientais não eram consideradas no parcelamento do solo; a lei nacional que trata disso surgiu logo depois. Ou seja, geologia e hidrologia pouco importavam. Foi esse o ano em que começaram os serviços de urbanização na área da fazenda Aggeo Pio Sobrinho para edificar casas. Poucos anos depois, em 1985, foi criada uma lei que passou a tratar a região como zona residencial 4, permitindo edifícios residenciais com até quatro pavimentos. Já em 1996, a região foi considerada zona de adensamento preferencial; foi quando surgiram as grandes torres. Quatro anos depois, em 2000, a lei foi mudada, proibindo o adensamento, mas aí o estrago já tinha sido feito, porque antes da mudança, houve uma corrida para aprovação de projetos. Em breves 40 anos, o bairro foi materializado, adensado, "feito a toque de caixa". Muitas mudanças em tão pouco tempo. Isso reflete um contexto mais amplo, a nível nacional e também histórico – a exploração do solo de forma desordenada a partir de interesses privados.
03/06/22